Afinal, o que é ser DJ? Quais são os parâmetros que definem se você é ou não é um DJ? Tem que viver exclusivamente da profissão e não fazer nenhuma outra atividade remunerada? Tem que tocar com vinil (ou pelo menos saber tocar com ele)? Tem que ter no mínimo 10 anos de experiência? Tem que ter equipamento próprio, tem que ter carregado caixas de som? Tem que saber fazer scratch? Tem que ter tocado em várias casas noturnas famosas? Não pode usar o auto-sync na hora de mixar?
Bem, eu também não sei quais são as respostas pra essas perguntas. Se tiver que ter toda essa experiência aí, eu também não sou DJ, igual a muita gente que toca, mas não é DJ porque não cumpre com os requisitos mínimos. Aliás, eu fiz questão de quase nunca usar "DJ" no meu nome, nem antes nem depois de "Marcelo KPZ". Eu sou Marcelo KPZ, que faço festas pros meus amigos, e pronto. Sou o cara, no meio de uma galera, que resolveu ir além de baixar músicas no computador (porque isso todo mundo faz, e alguns até melhor do que eu) pra tocar no Windows Media Player ou no iTunes, e empatar milhares de Reais pra comprar um equipamento profissional.
Tem muito DJ no mercado que fica puto com essa história de "fulano ex-BBB ataca de DJ e cobra 15 mil pra tocar numa festa". Eu sinceramente acho que a música pode ser tanto um hobby quanto uma profissão. Isso vale não só para DJs, mas também para músicos que tocam instrumentos como guitarra, baixo, bateria, etc. Eu acho estranho, porque eu nunca vi um guitarrista reclamar que "agora qualquer um ataca de guitarrista", e ficar puto porque todo mundo tá comprando guitarras, aprendendo a tocar vendo video-aulas no youtube, ou aprendendo com um amigo. Então, tem gente que usa a música como hobby, e tem gente que usa a música como profissão. Os profissionais vivem daquilo, que estudaram mais a fundo, treinaram muito mais, então cobram o cachê de um profissional. Os que têm a música como hobby, obviamente cobram um cachê muito mais barato.
No meu caso, a música é um hobby e também uma profissão. Começou como um hobby quando eu era adolescente, mas como é um hobby caro, aos olhos dos outros tornou-se uma profissão também, pois eu passei a cobrar pra fazer festas. Mas por que? Porque é impossível você fazer uma festa pra alguém levando R$ 20 mil em equipamento e não cobrar nada, nem mesmo o custo de manutenção (preventiva + corretiva), a gasolina do teu carro, e principalmente a depreciação do equipamento (que com o tempo vai requerer que você faça novos investimentos). E o tempo que você gasta em casa arrumando as coisas, testando, carregando pra cima e pra baixo, estragando a sua coluna vertebral, consumindo o tempo livre que você poderia estar investindo em outras coisas? Pois é, existe um custo pra se preparar uma festa, e esse custo não é nada baixo.
Se bem que fazendo as contas na ponta do lápis praticamente tudo o que eu ganhei de dinheiro tocando até hoje eu re-investi em novos equipamentos, mais modernos, mais potentes, etc., ou seja, a conta meio que "zera". Acaba sendo um hobby, uma coisa divertida, que me dá prazer, que é meio que financiada pelos clientes (a parte pecuniária). Mas eu também tenho um ônus para me divertir, pois como falei logo acima, gasto tempo preparando o evento, e sobretudo tenho um trabalho do cacete carregando peso, e também correndo riscos (vai que alguém bate na traseira do meu carro e amassa minhas caixas JBL que lá estão? Quem vai pagar por isso sou eu, obviamente).
Aliás, eu também tenho meus critérios para avaliar se alguém pode merecidamente usar a alcunha de DJ. A primeira coisa que eu reparo é se o "DJ" sabe mixar, e se sabe mixar bem, se tem segurança pra fazer o que está fazendo. Pra mim é fundamental que o DJ tenha um bom ouvido e saiba mixar sem usar recursos visuais ou automatizados (como Virtual DJ, Traktor, esses lixos). O segundo critério é que, no caso de um DJ que toque para agradar o público (ou seja, um DJ "comercial"), como DJs de casamento, por exemplo, saiba escolher as músicas adequadas para cada momento da festa, saiba lidar com as ansiedades do público, e também saiba interpretar os sinais que a pista dá quando executa determinado tipo de som.
Acho que esses dois critérios são suficientes pra dizer que alguém é DJ. Se o cara sabe mixar e sabe escolher boas músicas, não importa qual equipamento ele use, qual software, qual CDJ, se usa vinil ou não, se usa fitas K7, etc. Também não importa se ele já tocou em alguma casa noturna famosa, se vive da profissão, ou qualquer outra coisa. Pra mim basta que saiba mixar e que saiba escolher as músicas certas pra tocar. O resto é o resto.
Mas é claro também que, quando alguém que é DJ e tem uma técnica apurada como a que eu mencionei acima, essa pessoa quase que sempre vai ter um equipamento à altura. Eu nunca vi um DJ com excelentes habilidades mixando com um Virtual DJ pirateado, ou com um mixer Behringer entry-level. Mas já vi muito o contrário, vagabundo que não faz idéia de como se mixa uma música com a outra usando equipamento bom, ou mesmo um Virtual DJ da vida... O lance é que não dá pra julgar 100% dos casos pela aparência do equipamento, mas é quase certo que se o equipamento for "improvisado", digamos assim, o DJ na realidade não seja DJ de verdade, e ainda tenha que aprender a sê-lo. Se o equipamento for bom, não dá pra dizer se o DJ já é DJ mesmo ou não.
Eu acho importante evitar rótulos, e avaliar caso a caso, com calma e serenidade (se é que você realmente perde tempo avaliando isso, mas...). Eu acho que não se deve ter preconceito com os colegas de hobby ou profissão (DJs x DJs), e as chances devem ser dadas a todas as pessoas, pois em última instância, quem é o responsável por fazer essas avaliações, definir quem é DJ e quem não é, e decidir de quem contratar os serviços, sejam de pura discotecagem ou de aluguel dos equipamentos necessários também, são os clientes. Então, se o cliente quer contratar o DJ Jesus Luz, mesmo que ele não saiba tocar, deixa ele! Se o cliente prefere contratar o amigo dele que não sabe tocar direito, mas é "da galera", ou tem um equipamento fodão, deixa ele também... a decisão, no final, cabe a quem tá no final da "cadeia alimentar": quem tem o dinheiro na mão.
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